PCP analisa fogos e denuncia

<font color=990000>Enorme falta de meios e recursos</font>

Reagindo ao conjunto de medidas anunciadas pelo Governo sobre a chamada «Estratégia Nacional da Floresta», a Comissão Política do PCP, em nota emitida anteontem, dia 22, considera que elas constituem, no essencial, «uma declaração de boas intenções, muitas delas já conhecidas e que exigem um nível de investimento público que este Governo não revela intenções de fazer».
Eis o texto, na ín­tegra, da Co­missão Po­lí­tica do PCP:

O Go­verno PS/​Só­crates vinha fa­zendo um es­forço no­tável para que a imagem na opi­nião pú­blica dos in­cên­dios flo­res­tais neste Verão de 2006 cor­res­pon­desse à pro­pa­ganda de­sen­vol­vida desde Ou­tubro do pas­sado ano sobre a ma­téria. Con­tudo a dra­má­tica re­a­li­dade – ve­ri­fi­cada so­bre­tudo nas pri­meiras se­manas de Agosto – não só des­mentiu ca­te­go­ri­ca­mente a imagem que o Go­verno cons­truiu, como cons­titui uma fla­grante de­núncia das con­sequên­cias da po­lí­tica flo­restal na­ci­onal.

O PCP con­si­dera que os mais de 50.000 hec­tares ar­didos, as ví­timas mor­tais que re­sultam da ac­tual época de in­cên­dios, a des­truição de im­por­tantes va­lores am­bi­en­tais – no­me­a­da­mente no Parque Na­ci­onal da Pe­neda-Gerês, no Parque Na­tural das Serras de Aire e Can­de­eiro e na Serra d´Ossa – e os enormes pre­juízos ma­te­riais que atin­giram as po­pu­la­ções e o país, são ele­mentos cuja gra­vi­dade não pode ser su­bes­ti­mada ou des­va­lo­ri­zada. O PCP de­nuncia também a ten­ta­tiva do Go­verno de – através de abu­siva com­pa­ração com a ca­tas­tró­fica si­tu­ação que o país viveu nos dois úl­timos ve­rões e que fe­liz­mente não se re­petiu – pro­curar di­mi­nuir e vul­ga­rizar a di­mensão dos fogos flo­res­tais neste ano.
O PCP de­nuncia, em todo este pro­cesso, a enorme falta de meios e re­cursos - re­sul­tante em larga me­dida da po­lí­tica de res­trição or­ça­mental – de que são exemplo: a falta de re­cursos e meios que foram des­ti­nados às áreas pro­te­gidas, que levou o Vice-pre­si­dente do ICN a la­mentar-se agora, da in­su­fi­ci­ência do or­ça­mento do ICN. O PCP con­si­dera que não foi apenas a po­lí­tica de com­bate que fra­cassou, foi também a po­lí­tica de pre­venção, or­de­na­mento e vi­gi­lância. Po­lí­tica de aban­dono e ne­gli­gência da flo­resta por­tu­guesa que o PS pros­segue, na con­ti­nui­dade dos go­vernos do PSD e CDS-PP, apesar do enorme des­ca­ra­mento dos seus di­ri­gentes que, através de in­fla­madas de­cla­ra­ções, pre­tendem apagar as res­pon­sa­bi­li­dades que du­rante anos têm tido nesta ma­téria.
O PCP, com a au­to­ri­dade po­lí­tica que lhe é re­co­nhe­cida, pela in­ter­venção, aná­lise e pro­posta, que ao longo dos anos foi pro­du­zindo, sempre con­si­derou que ne­nhum go­verno evi­tará e re­sol­verá, em de­fi­ni­tivo, o pro­blema dos in­cên­dios flo­res­tais. Mas pe­rante o que mais uma vez está a acon­tecer no pre­sente ano, o PCP não pode deixar de as­si­nalar as res­pon­sa­bi­li­dades de su­ces­sivos go­vernos, pela con­ti­nu­ação do fla­gelo com a di­mensão, o nú­mero e os im­pactos ve­ri­fi­cados, con­so­li­dando nos por­tu­gueses a ideia da in­ca­pa­ci­dade e im­po­tência dos po­deres pú­blicos em lhe fa­zerem frente.

O PCP re­nova a de­núncia das in­ten­ções do Go­verno (mas não só) de con­so­li­dação das teses de que a prin­cipal causa dos in­cên­dios flo­res­tais é a do­mi­nância na flo­resta por­tu­guesa da pe­quena pro­pri­e­dade pri­vada, mal ge­rida ou aban­do­nada («não ge­rida de forma ac­tiva»).
Teses que têm 2 ob­jec­tivos po­lí­ticos evi­dentes:
- Pri­meiro, des­res­pon­sa­bi­lizar a po­lí­tica de di­reita, em par­ti­cular a po­lí­tica agro-flo­restal de su­ces­sivos go­vernos do PS, PSD e CDS-PP, pelo es­tado a que chegou e em que se en­contra a flo­resta e o mundo rural;
- Se­gundo, jus­ti­ficar e su­portar o de­sen­vol­vi­mento de pro­cessos de con­cen­tração da pro­pri­e­dade flo­restal (sob a eu­fe­mís­tica de­sig­nação de pro­moção do as­so­ci­a­ti­vismo flo­restal) apoiada na in­ter­venção co­er­civa do Es­tado e de re­cursos fi­nan­ceiros pú­blicos, para servir os in­te­resses dos grupos eco­nó­micos que mo­no­po­lizam a fi­leira flo­restal.
O Go­verno PS não ex­plica porque razão a flo­resta não é ren­tável ou é aban­do­nada – nada dizem por exemplo sobre a es­tag­nação ao longo dos anos do preço da ma­deira! Não ex­plicam porque razão con­ti­nuam a arder grandes áreas flo­res­tais de um só pro­pri­e­tário – como é exemplo a Serra d´Ossa pro­pri­e­dade da Por­tucel - ou ex­tensas áreas sob tu­tela e à guarda do Es­tado, como su­cede nos par­ques na­tu­rais e áreas pro­te­gidas. E quando falam da frag­men­tação da pro­pri­e­dade flo­restal por­tu­guesa, fingem não saber que 1% das ex­plo­ra­ções flo­res­tais dis­põem de 55% da su­per­fície flo­restal total!
O que o Go­verno PS e os adeptos dessas teses não querem é afrontar a PAC e as po­lí­ticas agro-flo­res­tais na­ci­o­nais, res­pon­sá­veis pela de­ser­ti­fi­cação eco­nó­mica e hu­mana de vastas re­giões do País, pelo aban­dono do mundo rural por­tu­guês, pelo agra­va­mento das as­si­me­trias re­gi­o­nais. Ou pre­tendem fazer es­quecer coisas tão co­me­zi­nhas como o facto do efec­tivo do Corpo de Guardas Flo­res­tais con­ti­nuar re­du­zido a 1/​3 do nú­mero do seu quadro, ou o facto de ins­tru­mentos de­ci­sivos para o or­de­na­mento das flo­restas, como os PROFs e os PGF, con­tidos na Lei de Bases da Flo­resta de 17 de Agosto de 1996, apro­vada por largo con­senso na AR, con­ti­nu­arem pas­sados 10 anos, sem ver a luz do dia!
O con­junto de me­didas apre­sen­tadas pelo Go­verno – dando con­ti­nui­dade à linha de pro­pa­ganda que o ca­rac­te­riza – através da cha­mada Es­tra­tégia Na­ci­onal da Flo­resta, cons­ti­tuem, no es­sen­cial, uma de­cla­ração de boas in­ten­ções, muitas delas já co­nhe­cidas e que exigem um nível de in­ves­ti­mento pú­blico que este Go­verno não re­vela in­ten­ções de fazer.
A Es­tra­tégia Na­ci­onal da Flo­resta que o Go­verno apre­sentou, re­co­nhece em parte muitas das in­sis­tentes cha­madas de atenção e ini­ci­a­tivas que o PCP tem de­sen­vol­vido sobre esta ma­téria, mas con­tinua refém da visão des­res­pon­sa­bi­li­za­dora do Es­tado e das cres­centes pres­sões para a re­cons­ti­tuição la­ti­fun­diária da flo­resta por­tu­guesa. A Es­tra­tégia Na­ci­onal da Flo­resta, parte do prin­cípio cho­cante da ad­mis­si­bi­li­dade de uma área ar­dida de 100.000 hec­tares por ano – o mais alto valor dos países do sul da Eu­ropa – com base numa cha­mada visão «re­a­lista», re­a­lismo este que tem sido res­pon­sável pela di­zi­mação da flo­resta por­tu­guesa e não as­senta numa visão global para o mundo rural.
O PCP após au­dição dos mais di­rec­ta­mente in­te­res­sados na flo­resta por­tu­guesa – os pe­quenos pro­pri­e­tá­rios flo­res­tais e os com­partes dos bal­dios – e das en­ti­dades in­ter­ve­ni­entes nas ope­ra­ções de com­bate aos fogos, dará con­ti­nui­dade na As­sem­bleia da Re­pú­blica, no PE e nou­tras ins­tân­cias à sua per­sis­tente in­ter­venção em de­fesa da flo­resta por­tu­guesa.



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